meu observatório de noticias

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


Fé e Crença

Jacques Ellul

De um único verbo, crer, originam-se dois substantivos que representam ações radicalmente opostas: crença e fé. Porém quando quero usar uma forma verbal para expressar a minha fé tenho ainda de usar crer, a não ser que escolha uma fórmula ainda pior, ter fé.

A crença provê respostas a nossas perguntas, a fé nunca o faz. Cremos para encontrar segurança, solução, uma resposta para os nossos questionamentos. As pessoas creem para desenvolverem para si um sistema de crenças. A fé (a fé bíblica) é completamente diferente. O propósito da revelação é fazer com que ouçamos as perguntas, e não suprir-nos com explicações.

A fé, em primeira instância, é ouvir, como Barth tão frequentemente nos faz lembrar. A crença fala e fala, atola-se em palavras, interpola os deuses, toma a iniciativa. A fé requer um posicionamento inteiramente oposto: a fé espera, permanece atenta, colhe sinais, sabe o que fazer das parábolas mais delicadas; ela ouve pacientemente Toda crença é um obstáculo à fé. As crenças atrapalham porque satisfazem a nossa necessidade de religião.o silêncio até que o silêncio seja preenchido pelo que ela toma sendo a inquestionável palavra de Deus, palavra da qual se apropria.

A fé isola o indivíduo; a crença, (qualquer que seja, inclusive a cristã) ajunta pessoas. Na crença nos vemos unidos a outros na mesma corrente institucional, todos orientados em direção ao mesmo objeto de crença, compartilhando das mesmas ideias, seguindo os mesmos rituais, arrolados na mesma organização, quer seja religiosa ou social, falando o mesmo dialeto. A crença age como apaziguadora na sociedade, ela é a chave para o consenso que buscamos, o definitivo e há muito proclamado como necessário elemento essencial da vida comunal. A fé sempre trabalha de maneira exatamente oposta. A fé individualiza; ela é sempre e exclusivamente uma questão pessoal. Fé é o relacionamento pessoal com um Deus que se revela como uma pessoa. Esse Deus singulariza a pessoa, coloca-a à parte, e confere a cada pessoa uma identidade que não é comparável à de nenhuma outra. A pessoa que ouve a palavra de Deus é a única a ouvi-la; neste ato ela está separada das outras pessoas, e nele ela torna-se única –A fé pressupõe a dúvida, a crença exclui a dúvida.simplesmente porque o elo que liga esse indivíduo a Deus é único, exclusivo e inviolável. Trata-se de um relacionamento singular com um Deus único e absolutamente incomparável.

Deus particulariza, singulariza a pessoa a quem ele diz “eu te chamo pelo teu nome” (Isaías 45.4). A fé separa cada pessoa das demais e faz única cada uma delas. Na Bíblia a palavra santo significa separado, à parte. Ser santo é ser separado de todos os outros, é ser único em razão da tarefa que não pode ser desempenhada por nenhuma outra pessoa, tarefa que se recebe pela fé.

A fé pressupõe a dúvida, a crença exclui a dúvida. A fé não é o oposto da dúvida, a crença é. Os soldados da crença agem sem questionamento de acordo com a lei e os mandamentos. São inflexíveis nas suas convicções, não toleram a qualquer desvio. Na articulação de sua crença eles imprimem rigor e absolutismo ao extremo. Refinam incessantemente a expressão da sua crença e buscam dar a ela uma formulação intelectual específica num sistema tão coerente e completo quanto possível. Insistem na completa ortodoxia. Codificam rigidamente modos de pensar e de agir.
Os crentes encontram encorajamento e certeza na presença de outros, e têm o seu vazio existencial preenchido pela vida comunitária. 
Isso leva a um elevado grau de eficiência; o crente é uma pessoa que faz o que precisa ser feito, mas toda a sua atividade é, no fundo, vazia. Os crentes tem uma realidade própria tão pequena que só são capazes de viver e expressar essa realidade dentro de uma unidade convencionalmente estabelecida. São gente de ajuntamentos. Os crentes encontram encorajamento e certeza na presença de outros, dependem da certeza de que esses outrosrealmente acreditam, e assim têm o seu vazio existencial preenchido pela vida comunitária. Multiplicar o número de liturgias, compromissos e atividades dá aos crentes a completa satisfação; rodeados por isso tudo eles não tem necessidade de questionar a verdade ou realidade da sua própria crença: a atividade os mantém ocupados.

Nesse cenário a diversidade de crenças torna-se intolerável. A dúvida e as incertezas são radicalmente destrutivas para a crença, e em razão disso a crença não pode tolerá-las. A crença é inimiga da diversidade. A diversidade é sempre uma fonte de novos questionamentos e propicia um ambiente para a autocrítica. Diante da diversidade corremos o risco de nos depararmos outra vez com a dúvida. Para evitar esse inimigo a crença precisa ser e é de fato rapidamente transformada em senhas, ritos e ortodoxia.

“Eu creio; ajuda-me na minha incredulidade” (Marcos 9.24) são as palavras que resumem o que é a fé. A fé me constrange acima de tudo a avaliar o quanto não vivo pela fé – o quão raramente a fé enche a minha vida. A fé coloca à prova cada elemento da minha vida e do meu contexto social; não poupa nada nem ninguém. Ela é implacável em me levar a questionar todas as minhas convicções: cada uma das minhas moralidades, crenças e posições políticas. A fé me impede de atribuir significado definitivo a qualquer área da atividade humana. Ela me desprende e me livra do dinheiro, da família, do meu emprego e da minha capacidade intelectual.
A crença é confortadora. 
Ela é o caminho mais certo para me levar a admitir que a única coisa que sei é que nada sei. A fé não deixa nada intacto. A única coisa que a fé me traz é o reconhecimento da minha impotência, incapacidade e inadequação. Ela faz com que eu me depare com minha condição de incompleto, e desmascara minha incredulidade (naturalmente a fé é a arma mais certeira e letal contra as crenças em geral).

A crença é confortadora. A pessoa que vive no mundo da crença sente-se segura. Ao contrário, a fé continuamente nos coloca no fio da navalha. Embora saiba que Deus é Pai, ela nunca minimiza o seu poder. “Quem é este, que até mesmo o vento e o mar obedecem?” (Marcos 4.41). Essa é uma pergunta da fé. Para a crença as coisas são simples: Deus é Todo-Poderoso. Com a crença nós normalizamos Deus, para que possamos nos sentir confortáveis diante do seu poder. Apenas a fé é capaz de apreciar a imensidão de Deus e a sua verdadeira natureza.

A dúvida, que constitui parte integral da fé, diz respeito a mim mesmo; não diz respeito à revelação de Deus ou ao seu amor nem à presença de Jesus Cristo. Trata-se da dúvida a respeito da efetividade, até mesmo da legitimidade, daquilo que faço e a respeito das forças a que me submeto na minha igreja e na sociedade. Além disso, a fé coloca a si mesma à prova. Se discirno o tumulto da fé dentro de mim, tenho de adotar como primeira regra não enganar a mim mesmo, não me deixando abandonar à crença indiscriminadamente. Passarei a ter de sujeitar minhas crenças a uma crítica rigorosa. Terei de dar ouvidos a todas as negações e ataques dirigidos a elas, de modo que possa compreender o quão é sólido o objeto da minha fé. A fé não apoia meias-verdades e meias-certezas. Ela me obriga a enfrentar o fato de que não sou nada, e ao fazer isso recebo todas as coisas de presente.

A crença está associada a coisas, a realidades e a comportamentos que são elevados ao status de valor definitivo, a ponto de serem merecedores de que se morra por eles. A crença veste realidades humanas finitas para que se apresentem como sendo realidades definitivas, absolutas e fundamentais. Pertencer à Cristandade e a uma das suas igrejas é o principal obstáculo para alguém tornar-se um cristão verdadeiro.Através da crença tudo que pertence ao âmbito da Promessa, da Palavra de Deus e do Reino é transformado em efeito colateral, em palavras doces e piedosas, em meios de tornar a vida mais fácil e num processo de auto-justificação.

A fé trabalha de forma oposta. Ela reconhece o Definitivo em sua verdade incontestável, e assim atribui pouca importância a qualquer coisa que se apresente como substituto desse Definitivo. Não se trata de olhar para uma fonte externa de uma realidade definitiva; o Reino dos céus está agora entre e ou dentro de vocês. A partir de agora você é que constitui o reino. A fé é a exigência de que encarnemos o Reino de Deus agora, neste mundo e nesta época.

Ninguém jamais progride da crença para a fé, muito embora a fé em muitos, com muita frequência, degenere em crença. Você não pode chegar à fé por meio de qualquer religião ou crença antiga, através de alguma vaga exaltação espiritual ou de emoções estéticas. De um ponto de vista cristão, crer não é melhor do que não crer; ter uma religião não é melhor do que não ter. A crença é uma estrada que não leva à fé. Não é possível transformar uma convicção pessoal a respeito do valor de rituais num ato de postura solitária diante de Deus. A implicação disso é verdadeira: toda crença é um obstáculo à fé. As crenças atrapalham porque satisfazem a nossa necessidade de religião. Elas induzem a escolhas espirituais que não substituem a fé, impedindo-nos de descobrir, de ouvir e aceitar a fé revelada em Jesus Cristo.

Kierkegaard defende a ideia de que, para uma pessoa criada com toda a cultura do Natal, que teve todas as suas pequenas necessidades espirituais satisfeitas pela igreja, é mais difícil receber o choque da revelação, descobrir o Único, e entrar na noite escura da alma, do que para aquele que não fez outra coisa na vida a não ser buscar continuamente sem nunca chegar a uma resposta satisfatória. Pertencer à Cristandade e a uma das suas igrejas é o principal obstáculo para alguém tornar-se um cristão verdadeiro. Não existe caminho que leve de um pouquinho de religião (de qualquer tipo) a um pouquinho mais e finalmente à fé. A fé destrói toda a religião e tudo que entendemos como espiritual. Por outro lado, a passagem da fé para a crença é possível e uma ameaça constante. É o caminho do retrocesso ao qual a igreja e vida cristã estão sempre sujeitos. A fé está constantemente degenerando em múltiplas crenças. Nenhum termo expressa melhor essa mudança imperceptível do que “ter fé”. Quando nós tomamos posse da fé, quando alegamos sermos proprietários dela, naturalmente estamos pensando que podemos dispor dela do modo que desejarmos. A única coisa que temos o direito de dizer é “a fé me tem”. Todo o resto é mera crença.

Fé não é nem crença nem credulidade. Não é uma aquisição razoável nem um feito intelectual; é mais a conjunção de uma decisão definitiva com uma revelação, e convida-me a efetuar hoje a encarnação da realidade última, o Reino de Deus presente entre nós. Sou intimado por uma Palavra que é eterna, universal e pessoal aqui e agora. Aceitar a intimação. Dispor-se a agir de forma responsável, entrando numa aventura ilógica, sem saber sua origem nem o seu fim. Assim é a fé.

A apologética tenta provar que o cristianismo responde às perguntas da humanidade, que ele é verdadeiro e superior às outras religiões. Fica evidente que isso limita nossa discussão ao nível religioso. Somos capazes de demonstrar que o cristianismo pode conduzir um debate razoável. Ocorre porém que esses debates entre intelectuais são totalmente estéreis; um jamais chega a convencer o outro. Nenhum apologeta chegou a trazer um incrédulo para a fé, Se você crê em Deus para ser protegido, coberto, curado ou salvo, então não é fé, porque a fé é gratuita.mesmo os que sabiam que haviam vencido a retórica do adversário. A abordagem meramente lógica e intelectualista leva a um beco sem saída. O intelecto não é capaz de invocar ou demonstrar o caminho da fé.
A crença é um refúgio e um escape da realidade. Em nossa busca natural por proteção nos agarramos a ela como uma garantia ou uma apólice de seguros. Radicalmente oposta à crença é a fé. Fé é assumir riscos, deixar para trás segurança e tranquilidade, desprezar garantias: é pisar, como o discípulo, para fora do barco no mar da Galileia. Se vivemos pela fé, não há necessidade de implorar que ele nos salve do perigo. Torna-se suficiente saber que ele está ali, mesmo que o perigo se mostre mortal; o que quer que o amor de Deus queira fazer ou esteja fazendo em nós será feito, não importa o quê.

Por que crer? Usando “crer” no sentido de “participar da fé”, não temos nenhum resposta. Acreditar porquê? Com vistas a quê? Para realizar o quê? Para conseguir o quê? São questões sem sentido. Cremos por razão nenhuma. Não existe razão objetiva para a fé; a fé tem de ser vivida. A fé não tem origem ou objetivo. No momento que admite qualquer objetivo ela deixa de ser fé. Se você crê em Deus para ser protegido, coberto, curado ou salvo, então não é fé, porque a fé é gratuita. Isso vai parecer chocante, especialmente para os protestantes, que falaram tanto de salvação pela fé, da fé como condição da salvação, que chegaram a dizer “você crê, por isso será salvo”. Mas temos de ficar voltando à fé e a sua gratuidade. Se Deus ama e salva a humanidade sem pedir preço algum, ele quer a contrapartida de ser crido e amado sem propósito algum; Deus quer ser crido e amado sem que seja por mero interesse pessoal, simplesmente por nada.
A fé é o ponto de ruptura, não com os nossos companheiros humanos, mas com as religiões. 
Isso é escandaloso, e ainda assim tão fácil de compreender se considerarmos o amor. No momento em que um homem e uma mulher se amam por alguma razão concreta, qualquer que seja, dinheiro, prestígio, beleza ou posição, o amor deixa de ser. O amor é sem causa e sem interesses pessoais ; o amor é sem razão.
A fé é uma constante ação recíproca; ela nunca fica estagnada ou se acomoda. Não se pode encarnar a fé de um modo estático e definitivo. A fé é um perene novo ponto crítico. A fé portanto é a contínua presença da tentação e uma visão cada vez mais clara da realidade. Ela implica na crítica à religião cristã, às missões civilizadoras, aos códigos morais cristãos impostos de fora; crítica a uma verdade cristã que exclua reivindicações sobre si de qualquer outra área da cultura humana. A fé é o ponto de ruptura, não com os nossos companheiros humanos, mas com as religiões. A fé é levada a prosseguir em criticar, julgar e radicalmente rejeitar todas as reivindicações religiosas humanas. Precisamos ser cautelosos nesse ponto. Não são pessoas que estão sendo julgadas ou criticadas aqui; a vontade de poder das pessoas e a expressão disso na forma de religião é que é criticada, julgada e rejeitada. Mas a crítica da religião feita pela fé pode estar enraizada apenas na sua crítica de si mesma.

A fé me leva a tomar parte de tudo, e ao mesmo tempo me mostra tudo sob uma luz que não é a razão, a experiência ou o senso comum. Não se trata de uma operação intelectual, é sim uma atitude existencial. A fé traz a luz a nova pessoa manifestada em amor e lucidez.

Hoje em dia a fé dos cristãos na igreja se desencaminhou. A sua obsessão com o conteúdo da sua fé (teólogos discutindo termos técnicos) ao invés da paixão pelo movimento e pela vida da fé, acabou desencadeando a nossa crise mundial. Mas o imutável permanece imutável. O Último, o Não-Condicionado, o Totalmente Outro não mudou. A fé é nossa responsabilidade de fazer com que o Transcendente, o Não-Condicionado, o Totalmente Outro Ser, torne-se uma realidade ativa dia após dia em nosso contexto, hoje onde quer que estivermos. A fé só move montanhas quando fala ao onipotente criador – quando me sujeito a ouvir a palavra da fé.

Postado originalmente em 26 de março de 2005

Extraído de Fé Viva: Crença e Dúvida num Mundo Perigoso. San Francisco: Harper and Row, Publishers, 1983.
Tradução: Paulo Brabo
Revisão: L. Ivan Volcov

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012


Ganhei Coragem

Rubem Alves
Colunista da Folha de S. Paulo

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos". Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei: "O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo. Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante e amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou. Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava.Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre. "Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável. O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras. As mentiras são doces; a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo.

O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos. Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral" observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.

Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival. Indivíduos são seres morais.Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.

Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.

O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos. Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio; não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol. Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção." Isso é tarefa para os artistas e educadores. O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança.

Rubem Alves

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O segundo Adão



"O Senhor disse a Abrão: "Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar.
Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. 
Gênesis 12:1-2"


   Deus quer fazer em nós algo "novo", quer nos oferecer uma "nova" historia, nosso Deus é surpreendente. Quando nos acomodamos na nossa zona de conforto perdemos a identidade, deixamos de exercer nossos dons e experiências que a ninguém foram dados e assim enterramos nossos talentos.Segue vídeo ilustrativo "Uma Rockeffeler no Jacarezinho"
 http://g1.globo.com/videos/globo-news/dossie-globo-news/t/todos-os-videos/v/herdeira-de-milionario-americano-relata-experiencia-de-vida-em-favela-brasileira/1686880/
 O curso da nossa historia não começa nem termina em nós, há um projeto em andamento, somos instrumento indispensável para o andamento dessa historia. A genealogia bíblica nos mostra que Deus dar a cada um uma missão importante.
Se mantivermos conectados com os valores e princípios do plano Maior (Deus), seremos uma benção onde quer que colocamos a planta de nosso pé e o pouco será muito.
 Em contra ponto a esse princípio, o sistema mundano, enganador, tenta imitar os planos de Deus para nós, induzindo nosso coração ao seu plano que é matar, roubar e destruir. 
 Quando Deus diz: Sai da tua tenda, o mundo prega que devemos deixar de lado tudo que somos, ou nos rotulam de  reacionários, conservadores, retrógrados, insinuam que, para sermos inseridos ao meio precisamos nos despojar de todos os valores, temos que ostentar o que diz a maioria. É, aparentemente paradoxal, o chamado de Deus, é como se nos ordenasse a romper com tudo que somos, com toda nossa bagagem, ou seja, com nossa individualidade. Mas é exatamente o contrário, Deus nos chama a sermos tudo o que temos e somos em todo nosso potencial, Ele nos chama para exercer todo o nosso ser ao ponto de sermos chamados imagem e semelhança de Jesus, assim como era no Principio. O segundo Adão.

 Francijane Araújo

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Ideais humanista versus ideais de Deus


"Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem os meus passos.
Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos ímpios 
Salmos 73:2-3"


Ideais humanista versus ideais de Deus
O que está acontecendo no mundo todo atualmente é uma especie de  unificação do pensamento.Em toda parte se vê um "chamamento forçado," uma doutrinação marxista através da grande mídia objetivando a desestruturação do ser humano em todos os níveis do ser(valores, família, propriedade privada,  liberdade de expressão e tudo que diz respeito à pessoa).
    Tudo que existe em nós e na terra há um idealizador. Há um projeto sendo executado cujo autor é Deus. O que está acontecendo no mundo é a contracultura do "desconstrucionismo"  objetivando a desestruturação desse projeto.O link abaixo mosta esse fato: http://www.midiasemmascara.org/artigos/conservadorismo/12578-e-hora-dos-cristaos-ocuparem.html
Levantaram-se os reis da terra, E os príncipes se ajuntaram à uma, Contra o Senhor e contra o seu Ungido.Atos 4:26
   O salmista Asafe, certa vez se deixou contaminar por um sentimento perverso de invejar a riqueza dos impios. Assim como está acontecendo nos nossos dias. A linguagem mundial é a mesma: odiar os ricos, agitar as multidões contra os "ricos opressores." Qual o objetivo disso? Simples! desapropriar para facilitar a opressão.Uma pessoa sem seus valores, família, bens, etc, está apta a ser massificada, tratada como mais um na multidão.
     As pessoas acreditam que os governos são uma especie de deuses supridores de todas as necessidades: Educação, saúde, moradia, segurança, etc. e no entanto o que lhes cabe é simplesmente o que diz a palavra de Deus: "o governador é servo de Deus para galardoar os bons e punir os maus feitores".
Me entristece ver (principalmente) cristãos com sentimento de inveja, ganância e revolta por quem quer que seja, não é porque meu vizinho é rico que a minha vida é vazia. Deus já nos deu o suficiente para sermos o que queremos ser. Mas somos bombardeados com essa linguagem marxista,(só linguagem, pois os que se apropriaram indevidamente da vida dos povos são eles) a historia se encarrega de nos mostrar seus frutos: Quando um indivíduo é desapropriado, em toda área do seu ser, a casa fica varrida e pronta para ser invadida por toda perversidade: narcisismo, bestialidade, depressão, alcoolismo, etc, como ocorreu na União Soviética, e Cuba e, sutilmente, em toda parte do mundo contemporâneo.
   Em várias narrativas bíblicas em que nosso querido Senhor Jesus executou maravilhas na vida de alguém Ele ordenava: Vai para tua casa e mostra aos teus o que te foi concedido.

Francijane Araújo



terça-feira, 18 de outubro de 2011

A arte do devorador

Tornaram-me o mal pelo bem, roubando a minha alma.
Salmos 35:12


   A tática inimiga nunca muda, a essência é a mesma sempre: Tornar mal por bem e bem por mal. A inversão de valores está no centro das atenções daqueles que intentam exercer domínio sobre as multidões. Para sermos devorados basta perdermos a capacidade de discernir intentos, esquadrinhar o espírito das coisas. Ao Ler essa reportagem  http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/os-ladroes-com-ideologia-sao-ainda-piores-do-que-os-outros/ lembrei me do Salmo de Davi: Sl, 35 e me perguntei: Por que não mudamos? "Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais".(Bechior).
  A vontade de Deus para nós é que cuidamos da nossa casa, vivamos do suor do nosso próprio rosto, pois só assim é possível conquistar a dignidade tão sonhar por todos, pois falam-se muito de igualdade, partilha, fraternidade, liberdade porque sabem que ansiamos por isso, no entanto para Deus não há igualdade, exceto seu amor por nós. Deus não nos trata de maneira coletiva para Ele somos tesouros preciosos de valor específico, incomparáveis. 
 Uma multidão, certa vez, foi até Jesus. Na ocasião, como era de Seu carater desnudar os intentos e trazer à luz o que estava no oculto, ofereceu lhes pão, era cerca de 5000 mil pessoas, todas foram alimentadas e ainda sobrou . logo apos se fartarem o Senhor nos mostrou o resultado : a multidão propôs torná lo rei mas não era esse o proposito de Jesus,(ser um líder politico), e sim desfazer as obras das trevas, daquilo que está por trás das "cortinas". 
  É característico da natureza humana vender sua liberdade por migalhas por não conhecer a si mesmo, nem o seu valor. Outro exemplo é o de Ésaú que vendeu sua primogenitura por uma sopa de lentilha. http://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/25/34+
  Aqueles que intentam roubar nosso tesouro(somos um vaso de barro que guarda um tesouro inestimável), se utilizam de armadilhas, astucias, sagacidade, para usurparem o que Deus nos deu. A nossa liberdade. 
Só seremos verdadeiramente livres quando chegamos à estatura de Cristo. Quando Deus criou o homem disse: "façamos o homem à nossa imagem e semelhança". Jesus é o caminho da plenitude.
 Francijane Araújo

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Bestialidade coletiva

 Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.
Gênesis 3:-10



  Nossos dias são apropriados a essa confissão de Adão(eu e você). Diga-se de passagem, que maravilha de confissão!
  Reconhecer a nossa nudez é o primeiro passo para a restauração.
Me veio uma reflexão quando assistia ao "rock in rio" sobre a nossa condição moral atual. Paralelo a isso, pairava na minha memória a cena dos americanos chorando seus mortos do 11 de setembro. Fiz essa pergunta  a mim mesmo: Quem chorará nossos mortos? 
  Vemos no nosso país, multidões bestializadas por futilidades como festas profanas, "marchas contra ninguem a favor disso ou daquilo," carnaval, terapias do riso e tudo mais enquanto nossas crianças morrem nos hospitais, nas escolas, nas ruas, etc... Nossa situação é calamitosa precisamos acordar do sono e parar de ser "boiada" e aprender com o profeta Jeremias: LAMENTAR A NOSSA NUDEZ.
  Como efeito dominó, vemos nesses eventos sociais a hegemonia coletivista (que favorece a um grupo dominante), violar constantemente as liberdades individuais. Com isso, o individuo, como alma vivente (personalizado) tem ficado para segunda categoria, ou seja, o que se vê agora é massa de manobra pisoteada, desrespeitada nos seus direitos individuais.
  O nosso Senhor Jesus Cristo, é o verdadeiro amado da nossa alma, pois é Ele e somente Ele quem a nossa alma busca quando quer a verdadeira satisfação,  mas somos enganados com promessas de satisfação do nosso ego com diversas bobagens hedonistas, imediatistas quando na verdade estamos tentando esconder o que está patente aos olhos de Deus assim como fez Adão lá no principio.
  O que me chama a atenção nesses dias trabalhosos em que vivemos é o fato de sermos vistos como multidão pois, não é assim a visão do nosso Deus sobre nós. Ele não nos vê de maneira coletiva, pelo contrário. O Senhor deixou várias vezes, nas narrativas biblicas, a multidão para atender a uma mulher em seu dilema individual, um centurião, um Jairo etc...
 As obras de Jesus têm contrastes gritantes das obras dos nicolaítas:
http://apocalipsetotal.wordpress.com/2010/01/19/quem-eram-os-nicolaitas/ as quais o Senhor odeia
Porque exerce dominio sobre o povo.
Apesar de saber que os dias são maus, Eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra Jó 19:25. Pois nem tudo está perdido ainda há os que não se dobraram a Baal:
http://www.ricardogondim.com.br/estudos/vazio-perigoso/


Francijane Araújo



quinta-feira, 7 de julho de 2011

Papel fundamental da Igreja

  A missão fundamental da Igreja é desfazer as obras das trevas: dar liberdade aos cativos, abrir os olhos dos cegos, ressuscitar os mortos.
  Nós cristãos, como todo mundo, somos bombardeados constantemente por idéias que não geram vida. Somos induzidos através da mídia, Poder Estatal, cultura, religião dentre outras hegemonias esmagadoras, a desenvolver sentimentos inversos à geração de mais vida.
  O que diferencia uma pessoa livre de uma vulnerável não é a proibição desse "bombardeamento sugestivo" do pecado, ou seja, a exposição da pessoa ao erro, mas sim o fruto que o sujeito deixa nascer em consequência dessa exposição.
  Um bom exemplo disso é a historia de José do Egito, ele foi exposto a todo tipo de sentimentos, contingências, e situações adversas, mas nem por isso estava vulnerável à destruição dos seus sonhos e objetivos porque ele escolheu deixar nascer o fruto da sua integridade, ele permaneceu firme em seu caminho-diga-se de passagem: José foi instruído no caminho reto-. Ele sabia quem era, não se deixou abater pela perversidade, não deu à luz o filho da perversidade.
  quando nasceu seu primogênito, deu o nome Manasses que significa "Deus me fez esquecer as aflições e de toda casa de meu pai".
  Para robustecer a vida, em primeiro lugar, devemos conhecer a verdade de Deus para que, quando enfrentarmos o dia mal não percamos a integridade.
  Nos dias atuais vemos a Igreja inerte em áreas fundamentais como a de ensinar as pessoas sobre o bem, sobre os valores eternos, o paraíso de Deus porque a muito tempo saímos de lá, o mundo está acostumado com o mal,  sobre o pecado não precisa ensinar. Hoje o que vemos é a igreja conformada com o mundo, em nome de uma "modernidade desconstrucionista" onde tudo é permitido em nome de uma falsa liberdade, pois a verdadeira liberdade é aquela onde o indivíduo tem a opção de escolher o bem, pois o mal é invasivo não precisamos escolher para nos confrontarmos com ele.
  Esse é o papel da igreja: Trazer liberdade aos cativos, dar conhecimento ao aprisionado pelo pecado, pois só assim seremos verdadeiramente livres, quando temos não só a invasão do mal, mas também a opção do bem.

   Francijane Araújo